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Amazonas, Anete Rubim, Autor Anete Rubim, Autor anete2010, Biodiversidad, Biología vegetal, Botánica, Día Mundial del Medio Ambiente, Ecología, Manaos, Medio Ambiente, várzea
Nasci em uma ilha de várzea no rio Madeira, estado do Amazonas (regiao norte do Brasil). O rio Madeira, para quem nao sabe, é um afluente da margem direita do rio Amazonas, portanto, vem das cordilheiras dos Andes. É o rio mais barrento, mais caudaloso e mais briguento entre todos da região. Com mais sedimentos porque carreia por ano até 3500 mg/l ao longo de mais de 1400 km. de extensao. Caudaloso porque contém 18 corredeiras/cachoeiras. E briguento porque é briguento mesmo.
Texto en castellano:
En la estantería monográfica de la biblioteca de nuestra facultad se expone una selección de libros y películas sobre la Amazonía.
Em seu curso sao comuns as ilhas de varzea, formadas por sedimentos e que sao consideradas terras jovens, em processo de formaçao. As ilhas podem permanecer inundadas durante vários meses no ano e como em outros lugares da varzea, quem nasce aí nao tem endereço, nem código postal e só se chega de barco, numa viagem que pode demorar dias.
As cartas para os ribeirinhos são entregues pelo remetente nos barcos, no dia da saída e só consta o nome do destinatário, quando muito, o nome da comunidade. Nome de comunidade quase sempre é nome de santo. O interior do Amazonas é assim…um mundão de floresta e água que obriga o ribeirinho ao isolamento, numa condição de vida sem acesso aos bens mais básicos para qualquer ser humano: saúde e ducação. Quem vie neste mundao de água e mata é um herói desde que nasce. O transporte escolar das crianças é uma canoa. Se a escola é perto, vão remando. Se é longe, depende de um motor para colocar no pequeno barco. Se quebra o motor, leva meses ate consertar e não se vai a lugar menhum.
Já ouviram falar na construção das usinas hidrelétricas Santo Antonio e Jirau? Também é no Madeira! Adeus valentia! Um estudo sobre o transporte de sedimento revela: Os barramentos no Rio Madeira irão gerar uma redução na velocidade da corrente e na capacidade de transporte de sedimentos pelo rio, favorecendo sua deposição nos reservatórios que, aos poucos, vão perdendo sua capacidade de armazenar água. Portanto, qualquer mudança do estado de equilíbrio do fluxo, ocasionada pela construção de uma barragem em um curso de água, conduz a uma série de transformações no processo fluvial. E tem os peixes migradores, os grandes bagres, que necessitam da extensão do rio para completar seu ciclo produtivo.
A vida é mais difícil no período de cheias durante os meses de dezembro a junho. A pesca é mais complicada e nesta época nao se pode plantar nas varzeas.
No Amazonas, o peixe é a principal fonte de proteína e em algumas áreas, come-se peixe no café, no almoço e na janta. Daí, o registro de maior consumo de pescado no Brasil: 550 g indivíduo-1 día-1, muito superior a media do consumo no País. Lógico que dentre as duas mil espécies de peixes existentes na região, o ribeirinho tem as suas preferências: assim como reconhece o peixe pelo ruído emitido no silencio das pescarias, ele também conhece o sabor da carne nobre do pescado. Por isso só pescam as espeécies que lhes interessam, sendo respeitosos com o rio
Manaus, a capital do estado, viveu seu período de riqueza no final do sec. 19 e inicio do sec. 20, com a exploração da borracha. Durante o apogeu do látex, foram construídos palacetes e monumentos, como o mais suntuoso Teatro do Brasil, o Teatro Amazonas, e também foi fundada a primeira universidade do País, hoje Universidade Federal do Amazonas, que acaba de completar cem anos.
Com o contrabando das sementes e produção do látex em outros países tropicais, a cidade passou por um declínio econômico que perdurou por anos. Além disso, o isolamento da cidade com o resto do País contribuiu para a estagnação da economia. Na década de sessenta, como parte do plano de Governo de integrar a regiao com o resto do país, foi criada a zona Franca de Manaus. Com objetivo de potencializar a regiao, o governo concedeu incentivos fiscais para instalaçao de fábricas. Hoje sao 550 industrias, que fabricam desde motocicletas a CD-ROM. Analistas divulgam que a existencias do polo industrial de Manaus, reduz a pressao sobre o desmatamento do Amazonas, daí o menor índice (2%) entre os estados da regiao, dado intensamente divulgado pelo governo, como forma de amealhar recursos especialmente no exterior.
A implantaçao da zona franca de Manaus, promoveu um fluxo migratório de pessoas do interior, de estados vizinhos e nordeste do Brasil, atraídos pela expectativa de emprego e melhores condiçoes de vida. Esse processo gerou uma concentraçao populacional na cidade de Manaus, que possuía pouco mais de 300.000 habitantes em 1970 e passou a uma populaçao de 1.7 milhoes em 2009.
O cenário que forma parte da paisagem urbana de Manaus nao é diferente de outras cidades do país que segregaram a populaçao de baixa renda na periferia da metrópole. Além das áreas periféricas, as pessoas se concentraram nas margens dos pequenosa rios, vivendo em palafitas sobre essas areas, que além de servirem de moradias, passaram a funcionar como receptoras de lixo e esgotos (só 13 % do esgoto é recolhido). A falta de controle e de medidas governamentais ao longo do processo de ocupaçao nessas areas protegidas por Lei, acabou por poluir e inviabilizar os pequenos rios que cortam a cidade, chamados de igarapé. Atualmente, há um programa de governo para melhorar a problematica.
O símbolo mais emblemático desta cidade da Amazonia é o encontro das águas dos rios Negro e Solimoes, que a partir dessa uniao passa a ser denominado Amazonas. Quem vai a Manaus e nao conhece o encontro das águas é como o velho ditado: foi â Roma e nao viu o Papa! Quer conhecer grátis? Pega a balsa Ceasa-Castanho que atravessa o rio e leve a câmera fotográfica, pois paisagem mais bonita nao há.
Entretanto…o símbolo mais emblemático de Manaus pode ter outro cenário! A construção de um porto privado na frente do encontro das águas para atender o pólo industrial esta em processo de licenciamento no órgão estadual de meio ambiente. Se aprovado, serão vislumbrados pelo turista centenas de containers, alem de todos os impactos antes, durante e depois do funcionamento do porto. Surgiu um movimento social denominado SOS encontro das águas, com objetivo de defender o valioso patrimônio natural, que solicitou do governo federal a transformação do local em área protegida. O processo esta tramitando e quem quiser se informar para prestar apoio ou por curiosidade escreva ao correio eletronico sosencontrodasaguas@gmail.com.
As transformaçoes na cidade de Manaus sao notórias, umas para melhor outras nem tanto, porém o interior está igual. Igual nao, pior! Hoje o rio Madeira, o mais forte, caudaloso e mais bravo, esta doente. Contaminado por mercúrio usado na exploraçao do ouro que esta no fundo do rio. Movem e removem os garimpeiros. De acordo com pesquisas da Universidade Federal de Rondonia, está contaminado o rio, o peixe e o homem. O rio Madeira valente está com os dias contados.
Viver na Amazônia não é fácil! A região é conhecida pela sua biodiversidade…e tambem pelos superlativos: a maior planta aquática e o maior peixe do mundo. Chegar a uma comunidade e conversar com o caboclo ribeirinho é bom, sua sabedoria vai alem do conhecimento cientifico e voce sai ganhando com a narrativa do saber popular.
Para as crianças, os frutos nativos como pupunha, açaí, tucumã e cupuaçu substituem os caramelos, biscoitos e guloseimas. Banho de chuva faz parte do cotidiano. No Amazonas chove de novembro a junho, com media de 2000 mm/ano. A chuva não manda recado, vai e vem qualquer hora e logo depois o calor chega, castigando o pensamento de qualquer vivente. Inclusive o meu!
Nunca esqueço a alegria das crianças, correndo descalças e pulando no rio Amazonas.
(1) “Várzea” son humedales
(2) “Ribeirinhos” se denominan a las personas que viven a la orilla del río.
(3) “Los palafitos” son un tipo de vivienda asentada sobre pilotes o estacas en zonas inundables, lagunas o canales.
aneterubim@ufam.edu.br
Professora da Universidade Federal do Amazonas, hoje em Sevilla participa do grupo de pesquisa GECONAT – grupo de ecología, citogenética y recursos naturais, no Depto de Biología Vegetal e Ecologia da Univertsidade de Sevilla.
Referencias:
CARPIO, M. J. Hidrologia e Sedimentos. In: Águas Turvas: alertas sobre as conseqüências de barrar o maior afluente do Amazonas/Glenn Switkes, organizador; Patrícia Boninha, editora – São Paulo: International Rivers, 2008.
COBRAPE – Cia. Brasileira de Projetos e Empreendimentos. Relatório de análise do conteúdo dos estudos de impacto ambiental (EIA) e do relatório de impacto ambiental (RIMA) dos aproveitamentos hidrelétricos de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, Estado de Rondônia.
TUCCI, C. E. M. Análises dos Estudos Ambientais dos Empreendimentos do Rio Madeira. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA: 2007.
Madalena Camargo dijo:
Hola Anete,
Sou brasileira, morei en Porto Velho e estive exatamente no Madeira Mamore (o tren ja nao funcionava), que saudades. Sou feliz por saber que existem pessoas que cuidam do pais mas creo, que como voce, asim tam sensivel e com tanto amor ja e um pouco dificil encontrar hoje en dia !!! Espero un dia poder conhecer-la pessoalmente. Vivo no Mexico ha 8 anos e estou en intercambio com a Universidade do Amazonas ja que estoy interesada en criar o nosso famoso peixe Pirarucu que ja esta sendo criado en cativeiro en varias partes inclusive en Rondonia, se voce pode aportar alguma informacao eu agradeco. Un beijao no seu coracao!!
Madalena Camargo
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Romir dijo:
Romir Santos
Querida Anete
Lindo texto que mostra exatamente o que pude constatar com meus próprios olho e jamais teria tanta habilidade para descreve-lo. Obrigado por mostrar a todos essa realidade de um lugar tão facinante.
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Pingback: “Palafitos” en la Biblioteca de Biología « El Barco de Darwin
Marisa Moura da Silva Borges dijo:
Exclente texto, que nos faz conhecer a Amazonia como ela é: intensa, exuberante.
Parabens!
Marisa Moura
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Lino João dijo:
Quem diz que ciência e sentimento não combinam?
Combinam, sim senhor!
Anete mostra isso. E mostra mais, mostra que ciência pode (e deve) ser feita com poesia, com carinho, apaixonadametne.
Ciência, sentimento, poesia, paixão, afeto, em Anete, imensos, como a Amazônia que ela ama.
Boa viagem de volta.
Benvinda. Benvoltada.
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Araci dijo:
É isto aí Anete querida! Grande abraço!
A realidade emocionadamente colocada, o coração (vermelho!!!) batendo forte. A mata, o rio, as gentes, os seres todos de lá pedindo vida prá viver!
Saudades de jaraqui na brasa! E a farinha! E o açaí! Ave Maria!
Em julho nos encontramos pro lá! (?)
beijo grande em seu coração!
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Guille dijo:
Espero que pueda visitarte y que me enseñes de la mano esos parajes encantados. Un beso muy fuerte
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Ana/Ju/Mari dijo:
Nossa Anete, que texto lindo!!!!
Vejo que realmente não dá pra falar da nossa região sem emoção. Acho que se estivesse no teu lugar, ou seja, tão distante, teria desabado ao escrever. Parabéns e volte logo.
Beijos
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Mª José Gómez Román dijo:
Anete, un placer haberte conocido y que nos hayas acercado y dado a conocer tus orígenes.
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Rosario Sánchez, México dijo:
Querida Anete: gracias por compatir tu gusto por la gente, sus costumbres y la limnología; todo está aderezado por una maravillosa forma de decirlo para apreciarlo mejor.Enhorabuena y mucha salud para seguir disfrutando este mundo. Felíz estancia en Sevilla.
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Rita Mileni dijo:
Parabéns! Uma visão real e crítica a cerca da nossa realidade!! Que só quem ama tudo isso tem!!
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Pablo Garcia Murillo dijo:
El texto me gustado mucho. Refleja muy bien como es la zona de donde procedes, su dimensión y como se desarrolla la vida allí (y cuan distinta es a la de este lado del mundo). También, los graves problemas ambientales que amenazan con destruir la complejidad de esos maravillosos sistemas fluviales, en muchos casos, antes de los científicos los conozcan, y la necesidad de conservarlos.
Parabéns
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Jorge Carrión dijo:
Muy bonito Anete, historias y realidades hay muchas pero la de la amazonía es única.
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carlos granado dijo:
Excelente texto, que sin duda atraerá a muchos no amazonicos, a visitar la Amazonia y luchar por su conservación. Enhorabuena
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Neiva de Almeida dijo:
Anete
PARABENS!!!!!!! Belissimo o texto.
Beijo,
Neiva
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Carla dijo:
Muito bom!!! Uma viagem dentro da imensidão da Amazonia. Parabéns Anete, sorte que existem pessoas como você que podem levar de forma clara as verdades, necessidades e belezas de parte do nosso País.
Um grande abraço. Sorte e Saúde.
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Linaura Pedrosa dijo:
Só você Anete com a sua sensibilidade poderia escrever esse texto maravilhoso da região Amazonica. Lhe agradeço muito pois foi por seu intermédio que conheci um pouco do Amazonas, a vegetação deslumbrante, a imensidão do rio, provei das frutas exóticas e peixes deliciosos da região e o melhor: fui conhecer a ilha fluvial de Parintins ver o inacreditável e grandioso Festival dos Bois Bumbás = 26 horas de barco de rede…inesquecível!!
Obrigada amiga e muitas felicidades!
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Pepa Salas dijo:
Querida Anete, muchas gracias por abrirnos el corazón del Amazonas.
Este texto tan cercano nos da razones para seguir luchando en su defensa.
Ha sido un placer trabajar contigo, tanto por tu amabilidad como por tu disponibilidad para enseñarnos tu tierra.
Pepa Salas
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Paola Campos dijo:
Lo que un texto maravilloso sobre nuestra tierra … que ha descrito a todos nuestros antecedentes y experiencia de nuestros recursos naturales y la belleza …
Parabien Anete….Felicidad
PAOLA CAMPOS – MANAUS-AM-BRASIL
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Jesús dijo:
Anete, ¡me ha encantado el texto! Una descripción del Amazonas cargada de sentimiento y luchas en su defensa. ¡Enhorabuena!
Jesús Castillo
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Laercio Bruno dijo:
Gostei muito do seu artigo.Muito obrigado por esta visão original, genuína da região.
Inclusive pelas razões e cenários que voce expõe, no sleva a pensar que devemos preservar, melhorar em alguns pontos, como locomoção das comunidades e acesso á saude e educação, etc. Mas a ideía de manter a floresta como ela é torna-se muito sedutora.
Quando olhamos e constatamos os frutos que o progresso nos proporciona….desejamos manter esta região assim quase intacta.
Saudações;
Laércio Bruno Filho
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